quinta-feira, 14 de julho de 2016

O valor do tempo - Santo Afonso de Ligório.





Fili, conserva tempus.
Filho, aproveita o tempo (Sr 4,23)

Nada há mais precioso que o tempo e não há coisa menos estimada nem mais desprezada pelos mundanos. Isto deplora São Bernardo, dizendo: “Passam rapidamente os dias de salvação, e ninguém reflete que esses dias desaparecem e jamais voltam”. Vede aquele jogador que perde dias e noites na tavolagem. Perguntai-lhe o que fez e responderá: “Passar o tempo”. Vede o ocioso que se entretém horas inteiras na rua a ver quem passa, ou a falar em coisas obscenas ou inúteis. Se lhe perguntam o que está fazendo, dirá que não faz mais do que passar o tempo. Pobres cegos, que assim vão perdendo tantos dias, dias que nunca mais voltam! Ó tempo desprezado! Tu serás a coisa que os mundanos mais desejarão no transe da morte... Queremos então dispor de mais um ano, mais um mês, mais um dia; mas não o terão, e ouvirão dizer que já não haverá mais tempo (Ap 10,6). O que não daria então cada um deles para ter mais uma semana, um dia de vida, a fim de poder melhor ajustar as contas da alma!... Ainda que fosse para alcançar só uma hora — disse São Lourenço Justiniano — dariam todos os seus bens. Mas não obterão essa hora de trégua... Pronto, dirá o sacerdote que o estiver assistindo, apressa-te a sair deste mundo; já não há mais tempo para ti.

Por isso, exorta o profeta a que nos lembremos de Deus e procuremos sua graça antes que a luz se nos extinga (Ecl 12,1-2). Que apreensão não sentirá um viajante ao notar que se transviou no caminho, quando, por ser já noite, não lhe é possível reparar o engano!... Tal será a mágoa na morte do que tiver vivido muitos anos sem empregá-los no serviço de Deus. “Virá a noite em que ninguém poderá fazer mais nada” (Jo 9,4). Então o momento da morte será para ele o tempo da noite, em que nada mais poderá fazer. “Clamou contra mim o tempo” (Lm 1,15). A consciência recordar-lhe-á todo o tempo que teve e que empregou em prejuízo de sua alma; todas as graças que recebeu de Deus para se santificar e de que não quis aproveitar; e ver-se-á depois privado de todos os meios de fazer o bem. Por isso exclamará gemendo: Como fui insensato!... Ó tempo perdido, em que podia ter-me santificado!... Mas não o fiz e agora já não é tempo de o fazer... De que servem tais suspiros e lamentações, quando a vida está prestes a terminar e a lâmpada se vai extinguindo, vendo-se o moribundo próximo do solene instante de que depende a eternidade?

Consideração XI, ponto II.
Santo Afonso Maria de Ligório.